O túnel do carpo é um espaço osteofibroso inelástico por onde passam o nervo mediano e os tendões dos flexores superficiais e profundos dos dedos. O nervo mediano dá sensibilidade do 1o, 2o e 3o dedos. A síndrome do túnel do carpo (STC) é uma neuropatia de compressão que acomete o nervo mediano na altura do punho. É a síndrome compressiva mais comum e acomete 5% da população, é mais prevalente no sexo feminino na proporção 4:1 e atinge sobretudo adultos de meia-idade.
A compressão do nervo mediano acarreta progressivamente problemas na microcirculação sanguínea intraneural, lesões na bainha de mielina e no axônio e alterações no tecido conjuntivo de suporte. Em grande parte dos casos não é possível identificar a causa ou fatores de risco associados a essa síndrome, sendo denominada síndrome do carpo idiopática, atribuída a uma hipertrofia sinovial dos tendões flexores decorrente de degeneração do tecido conectivo, esclerose vascular e edema. As causas secundárias mais comuns estão relacionadas a:
Atividades manuais e repetitivas de mãos ou punhos
Obesidade
Tabagismo
Trauma local, luxação do carpo
Gravidez
Mieloma múltiplo
Artrose, artrite inflamatória
Diabetes mellitus
Hipotiroidismo
Trombose de artéria mediana
Hematomas ou hemorragias do ligamento transverso
Os sinais e sintomas clínicos mais frequentes da STC são: dor, que pode ter irradiação para braço e ombro, parestesias (formigamento e dormência) no território de sensibilidade do nervo mediano (polegar, dedo indicador e médio e face radial do dedo anular), frequentemente com piora noturna dos sintomas e fraqueza da mão acometida, que pode vir associada a hipotrofia da musculatura tenar. Além dos sintomas característicos, alguns testes de provocação no exame físico podem auxiliar no diagnóstico. São eles:
Sinal de Tinel: é positivo quando ocorre parestesia ou dor durante a percussão do punho no nível do nervo mediano. Esse teste é positivo em 60% dos casos, apesar de presente em outras condições.
Sinal de Phalen: é positivo se ocorre formigamento ou dor ao fletir o punho durante um minuto com os cotovelos estendidos.
Teste de Paley e McMurphy: o sinal é positivo se ocorrer dor ou parestesia ao pressionar o nervo mediano entre 1 cm e 2 cm proximais da dobra de flexão do punho.
A eletroneuromiografia ajuda na confirmação do diagnóstico e na diferenciação por outras causas e os exames de imagem podem indicar se há suspeita de lesões ocasionando efeito de massa. É importante excluir outros diagnósticos com sintomatologia semelhante como radiculopatias cervicais, síndrome do desfiladeiro torácico, síndrome do pronador redondo, síndrome de De Quervain e tenossinovites.
O tratamento da STC pode ser conservador ou cirúrgico. O tratamento conservador é reservado para os casos iniciais e mais brandos e engloba medidas como repouso com imobilização em posição neutra do punho (uso de talas) que podem aliviar os sintomas em mais de 80% e injeções locais de corticóides, com respostas semelhantes no alívio dos sintomas. Medicações como diuréticos, antiinflamatórios e vitamina B6 não trazem benefício aos pacientes com STC durante curto tempo de tratamento. O tratamento cirúrgico objetiva a secção completa do ligamento transverso do carpo, pode ser realizada pela técnica aberta clássica e as técnicas endoscópicas. A principal vantagem da técnica endoscópica é a rápida recuperação, permitindo o paciente retornar precocemente as suas atividades. As evidências atuais apontam melhores resultados com o tratamento cirúrgico quando comparado com o tratamento conservador. As principais complicações relacionadas a cirurgia são a lesão de nervos, cicatriz cirúrgica hipertrófica e distrofia simpática reflexa, com prevalências semelhantes nas duas técnicas.
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