O primeiro conceito sobre tumores em crianças é que o comportamento desses tumores muda em relação aos adultos, ou seja, não podemos tratar da mesma forma uma vez que são diferentes, além do fato da criança ser um indivíduo em desenvolvimento que necessita de atenções especiais quando comparado a um adulto. Umas das diferenças epidemiológicas importantes se refere ao fato de que os tumores do sistema nervoso central são os tumores sólidos mais prevalentes na faixa etária pediátrica e ficam em segundo lugar geral em prevalência perdendo apenas para leucemia e linfomas. A incidência de tumores do SNC em crianças é de aproximadamente 4,5 para cada 100.000 pessoas nos EUA por ano. Esses tumores apresentam uma maior prevalência no compartimento supratentorial, mas a partir de 1 ano de vida predomina a localização infra-tentorial dessas lesões. Dentre as etiologias mais frequentes encontramos os meduloblastoma, astrocitomas pilocíticos e os ependimomas, todos esses mais comuns na fossa posterior. A apresentação clínica desses tumores vai depender da localização do tumor, da idade da criança e do volume do mesmo. O efeito de massa do tumor, o edema envolvido e por vezes hemorragia do tumor pode causar sintomatologia por aumento da pressão intracraniana, crises convulsivas, sinais ou síndromes localizatórias, ou disfunção hipotálamo-hipofisária. A hipertensão intracraniana nos tumores pode ocorrer ou por hidrocefalia causada por obstrução da via liquórica pelo tumor ou pelo próprio volume ocupado pelo tumor, em geral os neonatos e bebês apresentam distensão das fontanelas, disjunção de suturas, macrocrania, engurgitamento venoso na face e couro cabeludo, irritabilidade e letargia; crianças maiores podem apresentar cefaléia, vômitos, papiledema, alterações do comportamento e do desempenho na escola além de sinais ou síndromes localizatórias como Síndrome de Parinaud em que o paciente apresenta deficiência no olhar conjugado para cima, nistagmo de convergência ocular, dissociação do reflexo pupilar luminoso e retração palpebral, sendo essa síndrome característica de lesões que acometem a região da pineal e dorso do mesencéfalo. Outra síndrome presente nos gliomas hipotalâmicos é a Síndrome de Russel ou Síndrome Diencefálica na qual a criança apresenta intensa caquexia (emagrecimento extremo) ausência de acúmulo de tecido adiposo, hiperatividade motora, euforia e estado de alerta. A partir da suspeita clínica exames complementares auxiliam no diagnóstico dessas lesões, tomografia de crânio é um dos exames rotineiramente solicitado em salas de emergência e pode evidenciar a presença de hidrocefalia. No que se concerne ao exames complementares, sem dúvida a ressonância magnética de crânio além de ser isenta de radiação ionizante fornece detalhes da anatomia cerebral e dos aspectos morfológicos do tumor podendo sugerir um provável diagnóstico do tipo de tumor. Frente ao diagnóstico de tumor do sistema nervoso central, uma série de decisões são importantes para o adequado seguimento desses pacientes; isso vai depender da presença ou não de hidrocefalia, do provável tipo do tumor se supra ou infra-tentorial, da idade da criança. De modo geral, a cirurgia com ressecção total da lesão e máxima preservação de estruturas anatômicas normais deve ser o objetivo a ser perseguido. Além disso, muitas vezes essas crianças vão precisar ser submetidas a radio e quimioterapia como tratamento complementar de uma série de tumores. Portanto, o tratamento completo se faz através de uma equipe formada pelo neurocirurgião, oncologista pediátrico, radioterapeuta, neuropediatra, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, e outros profissionais de saúde.
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